segunda-feira, 18 de maio de 2009

Quem que tá escrevendo?

Salve, amigos!

Hoje muita gente fala, em muitos lugares, ao mesmo tempo e a várias vozes. E até sem vozes. Mas o falar e o ter vozes na história do Jornalismo já teve pesos consideráveis e utilidades diversas, e especificamente este último configura um instrumento eficaz de trabalho de todos os tempos.

Pseudonimato e anonimato significam, respectivamente, práticas de nome falso e de sem-nome. Valer-se dessas técnicas significa transmitir a sua idéia protegendo a sua identidade, o que vai diferir do heteronimato em que o escritor vai assumir não um nome falso, mas um nome diferente, uma outra personalidade.

Para a opinião pública, esse escudo virtual teve aplicações variadas ao longo do tempo, ora contribuindo de forma incisiva para a consolidação da política (embora hoje em dia os partidários "não liguem mais pra opinião pública"); ora como maquiador de falantes de de um veículo popular (sim! É fantástico perceber que o jornal já foi um chat do século XIX); ora garantindo a privacidade, conferindo segurança e dando poder à liberdade de expressão.

Para se ter uma idéia, nos turbulentos tempos em que a Independência circulava pelo território brasileiro, o próprio D. Pedro I escreveu anonimamente nos veículos locais para difundir suas idéias sobre estrutura política, social e postura nacional. Como uma figura ilustre, centro das atenções, mas num tempo onde o poder era sensível e mal delimitado, era estratégico testar a forma que seus pensamentos repercutiriam na boca do povo para, na sequência, poder cada vez mais se mostrar a fim destas idéias até se reapropriar delas como um indivíduo concreto.

Em outros momentos, blefar a respeito de sua identidade garantiu a preservação de cidadãos, em um tempo onde a notícia tinha a habilidade de correr a boca pequena, se disseminar como uma praga em sociedades pequenas (em relação a hoje) e bem integradas. É o que se pode perceber em jornais do século XIX, que contavam com pseudônimos da parte de escritores e de leitores para desenvolver um diálogo tranquilo e despreocupado.

Especialmente por se tratar de uma sociedade ainda discriminatória e taxativa, essa prática foi muito comum em jornais que abarcavam conteúdos voltados para o público feminino, como o Jornal das Famílias e O Piauhy, trazendo discurso de redatores para a mulher brasileira (até em nome de mulheres brasileiras), de escritores, dedicados naquele momento ao público feminino, e das próprias participantes daquele núcleo.

Já recentemente, em uma organização urbana e veloz, trazendo repressões, acidentes e ameaças, as duas técnicas foram comodamente encaixadas. Elas serviram para o torneamento da censura, como pudemos presenciar com o compositor Chico Buarque de Holanda, quando as idéias eram intimamente sondadas pelo Regime Militar. E ainda hoje são apropriadas para as denúncias criminais, que preservam a integridade física e moral do informante e exigem um trabalho suado de apuração de fontes por parte de interessados profissionais da comunicação.
O nome, em canais de informação pública, de massa, velozes... é vendaval.

Até a próxima!

Por Rogles Camargo


Fontes:

MARTINS, Ana Luiza e DE LUCA, Tania Regina, História da Imprensa no Brasil (São Paulo,
Contexto, 2008)

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